terça-feira, 20 de maio de 2014

Sobre a trilogia "Jogos Vorazes" (com um pouquinho de spoiler)

    A trilogia Jogos Vorazes foi bastante comentada (e ainda é, já que o filme baseado no livro “Em Chamas” estreou em novembro). Os livros, voltados para o publico adolescente gerou posicionamentos acalorados de fãs declarando sua “genialidade” e do outro lado não-fãs declarando a falta de qualidade da obra. Enfim... muitos alfinetes foram espetados, muitos argumentos ruins foram utilizados, confusão e baixaria.Então, onde eu fico nessa história toda? Na galera do “deixa disso”, tentando acabar com a briga... Mas sem deixar de me posicionar, pois gosto muito dessa trilogia. Acredito que a proposta de apresentar uma história de distopia para o público adolescente foi feita com êxito. Então a Suzane Collins é a nova George Orwel? Não minha gente! São formas de escritas diferentes, pensados para públicos diferentes, escritos em contextos diferentes. Tentar rotular ou comparar livros e autores é simplificar demais o debate, é eliminar tudo de bom que os livros podem conter.

Box - Jogos Vorazes: A Trilogia



     Tenho alguns motivos pra gostar muito de Jogos Vorazes, vou tentar explicá-los: O primeiro de todos é a Katniss. Ela é a personagem principal, ela é a heroína, mesmo quando não queria ser, mesmo quando tentou fugir disso, ela é a heroína da trilogia. Tem um instinto de preservação muito grande, e amadurece no decorrer da história, é uma personagem complexa e que está em constante transformação, como eu e você, está em processo de crescimento, enfim... ela é extremamente humana. Ela não espera passivamente um pseudo príncipe encantado dar as caras e salvá-la, ela é ativa, toma as rédeas da sua vida. A grande maioria das histórias voltadas para adolescentes reproduz a fórmula da donzela indefesa, mas Jogos Vorazes rompe com essa lógica e é ótimo saber que minhas alunas vão ter perfis diferenciados para inspirarem-se, \0/ exemplos de personagens empoderadas. Ainda assim temos um triangulo amoroso, mas esse triangulo não é o centro da história, Katniss não está muito preocupada em resolver essa questão, ela se preocupa em sobreviver, em cuidar da família, em salvar as pessoas. Romances não são suas prioridades.
    
      Segundo ponto que me faz curtir muito os Jogos Vorazes são as críticas à nossa sociedade. Escrever sobre futuros distópicos permite evidenciar problemas atuais, mostrando realidades grotescas que podem surgir dos nossos hábitos tidos como comuns e inofensivos (mas que já são nocivos, só que muita gente não percebe isso). Jogos Vorazes nos apresenta a Panem, o país que surge no lugar dos EUA, parte do Canadá e do México, onde uma Capital próspera e rica explora 12 distritos que produzem tudo que a Capital consome. Nesse país, o acontecimento mais aguardado do ano é um reality show onde crianças e adolescentes são jogados numa arena para se matarem e só uma pode sobreviver. E enquanto a Capital festeja o vencedor com banquetes onde se servem bebidas que te fazem VOMITAR, para poder voltar a comer e comer e comer todas as iguarias da festa, nos distritos mais pobres a população morre de fome. Acho que é impossível não ver nos livros a alfinetada na indústria de entretenimento, na proliferação de realities cada vez mais esdrúxulos, no consumismo desenfreado, na banalização da morte e das desigualdades, na exploração da mão de obra em situações análogas a escravidão (inclusive de crianças). Tá longe de ser um tratado anarquista, mas pode plantar centelhas de questionamentos nos jovens leitores. Se você não viu essas questões, talvez seja interessante reler os livros com um olhar mais atento, mas é só uma sugestão.

      Terceiro ponto que eu gosto é a forma em que é abordada a revolta dos distritos. A população dos distritos não aguentam mais a rotina de opressão e percebem o lance das amoras venenosas (o quase suicídio de Katniss e Peeta) como uma forma de revolta contra a Capital. Veja bem, Katniss não pensou “vou fazer isso, e vou mostrar para Panem que a Capital não pode me controlar.” Ela estava numa luta individual, jogando para tentar sobreviver junto com Peeta, não estava nem aí para o que estariam pensando as pessoas que estavam assistindo aquela cena. Mas a população dos distritos viu ali uma centelha de esperança coletiva, de que era possível desafiar a capital. E apesar da liderança dos rebeldes do distrito 13 (que estava se preparando a muito tempo, fazendo treinamentos, produzindo armamentos), foi a população dos outros distritos que fez a revolta acontecer de fato, foi um levante legítimo, espontâneo, popular, resultado do acúmulo de anos de exploração e sofrimento.

       Vou escrever novamente sobre cada um dos livros, de forma mais aprofundada, mas queria fazer esse resumão sobre como eu entendo os Jogos Vorazes e como essa trilogia me despertou diferentes questões pra nossa vida, pra nossa realidade, além de me tornar completamente fã da Katniss.


5 comentários:

  1. Eu AMO Jogos Vorazes, não consigo deixar de amar! HAHA
    Adorei seu blog, comecei a te seguir!
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Oi Alessandra!
    Bem vinda!
    Jogos Vorazes é apaixonante mesmo = )

    ResponderExcluir
  3. Eu não li essa resenha antes de concluir minha leitura de "Jogos Vorazes" porque desconfiei que tinha spoiler e tem mesmo... Sem querer sugerir, mas já sugerindo, era bom deixar um aviso. A parte isso, concordo completamente com tua analise da postura da Katniss, as criticas a nossa atual organização social e a forma como a autora conduziu a narrativa sobre a revolta.

    Eu acredito muito e mais ainda na teoria do pacto social, existe um pacto social entre quem gere os bens coletivos e a coletividade, quando esse pacto não é cumprido a contento e a desesperança se espalha como as folhas de outono de um lugar no qual ninguém varre o chão, qualquer pequena faísca pode se transformar em um incêndio de proporções inimagináveis... E claro, sempre há pessoas no mundo se preparando para uma revolução, elas vão emergir quando o incêndio começar, podem não ser necessariamente as mais bem intencionadas, mas...

    Enfim, eu amei Jogos Vorazes, amei a postura politica da Collins, amei o olhar dela sobre as desigualdades sociais, sobre as prioridades das meninas/mulheres em mundos em crises, amei até mesmo o doloroso fim do livro, foi um impacto doloroso, fui dormir chorando quando terminei porque sei o quanto tem de verdade naquela história, mas valeu a pena cada letra, cada lágrima e tudo o mais.

    Parabéns pelo texto Fran, adorei.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Opa, a Aleska me mostrou depois que no titulo está escrito que tem spoiler e eu não vi... #Louca

      Excluir
    2. Oi Pandora!
      Acho que nos próximos textos que tiverem spoiler vou enfatizar mais esse ponto, para não pegar ninguém desprevenido, as vezes a gente realmente não repara direito o título e já vai direto para o post.

      Que bom que você gostou do meu texto, foi de coração e também foi meio que uma catarse depois de ter lido e assistido muita coisa chata sobre a trilogia. Amo muito Jogos Vorazes e queria expor o porque desse meu fascínio. E você resumiu bem a questão da revolução "a desesperança se espalha como as folhas de outono de um lugar no qual ninguém varre o chão, qualquer pequena faísca pode se transformar em um incêndio de proporções inimagináveis", adorei essa frase!

      O final eu achei incrível por mostrar a complexidade de uma revolução, dos jogos de poder envolvidos, das consequências dos atos, da dor inerente a guerra. Collins fechou muito bem a história.

      Gosto muito dos seus comentários!
      Volte sempre!

      Fran

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...