Você
já participou de um Clube do Livro? Sabia que é possível criar um
clube do livro com apenas duas pessoas, e em contextos adversos e até
dolorosos? É isso que Will Schwalbe nos mostra no seu livro “O
Clube do Livro do Fim da Vida”, que conta a sua história
pessoal e seu relacionamento com sua mãe, tendo como fio condutor os
livros que liam. É uma história tocante (principalmente para
aqueles que acreditam no poder dos livros) sobre a vida de uma mulher
incrível: Mary Anne Schwalbe.
Logo
no início do livro descobrimos que Mary Anne, mãe do Will, está
doente e que a perspectiva de morte é certeira e próxima. Mas entre
um café mocha e outro no
ambulatório, vamos conhecendo o relacionamento de mãe e filho, e o
nascimento inesperado de um Clube do Livro entre os dois durante
as sessões de quimioterapia.
“...onde
quer que minha mãe e eu estivéssemos em nossas jornadas
individuais, ainda podíamos compartilhar livros, e enquanto
estivéssemos lendo esses livros não seriamos a pessoa doente e a
pessoa saudável; seriamos apenas uma mãe e um filho adentrando
novos mundos juntos.”
O livro nos apresenta a uma
pessoa incrível, que leu muito e fez muito durante toda a sua vida.
Mary Anne trabalhou a vida inteira para ajudar refugiados de regiões
em guerra, sendo a criadora
da Comissão Feminina para Mulheres e Crianças Refugiadas (órgão
vinculado ao Comitê Internacional de Resgate),
tendo viajado com esse propósito para vários países do Sudeste
Asiático e da África
Ocidental (pra saber um pouco
mais sobre os países do Sudeste Asiático, leia Eu sou Malala, que
eu já resenhei).
Na
época em que adoeceu, a mãe
do Will estava empenhada num
projeto no Afeganistão, para a construção de um centro de cultura
nacional e biblioteca na Universidade de Kabul, além de bibliotecas
itinerantes que levassem livros em dari
e pashto, para o
interior do Afeganistão, onde muitas pessoas nunca haviam visto um
livro, ainda mais um livro na própria língua. Mesmo
doente, necessitando de repouso, Mary Anne não deixou de lutar pelos
seus sonhos e ideais, buscando doações para a construção da
biblioteca, recebendo e ajudando famílias refugiadas.
“É
claro que você poderia fazer mais – sempre pode fazer mais e
deveria fazer mais –, mas mesmo assim o importante é fazer o que
pode, sempre que pode. Você apenas faz o seu melhor, e isso é tudo
o que pode fazer. Pessoas demais usam a desculpa de que acham que não
podem fazer o suficiente, por isso decidem que não têm que fazer
nada. Nunca há uma boa desculpa para não se fazer nada – mesmo se
for apenas assinar alguma coisa, ou mandar uma pequena contribuição,
ou convidar uma família de refugiados recém-assentada para a Ação
de Graças.”
Esse livro me tocou muito, provocando reflexões sobre diversos
pontos que eu vou tentar contar para vocês. Primeiramente, é um
livro sobre escolhas de vida. Sobre ter coragem para mudar, seja de
relacionamento, emprego, país, carreira... mas tendo consciência
que muitas pessoas não tem esse privilégio de escolher ou não
essas mudanças. A família de Mary Anne tinha esse privilégio de
escolha, por exemplo, Will e sua irmã puderam repensar suas escolhas
profissionais, a própria Mary Anne, num momento da vida, largou o
emprego para trabalhar num campo de refugiados. Mas, do outro lado da moeda, muitas das pessoas
que Mary Anne conheceu no seu trabalho humanitário só tinham como
opção lutar pela sobrevivência.
Ter o domínio desses aspectos de nossa vida é um privilégio que
precisamos ter consciência, e que coloca questões éticas sobre
nossas escolhas: é o melhor que eu posso fazer? Estou sendo sincero
com meu sonhos e com meus anseios? Qual o impacto das minhas escolhas
para as pessoas ao meu redor? Se eu morrer amanhã, vou me arrepender
dessas escolhas? Acho impossível alguém ler esse livro sem ser
tomado por algumas dessas perguntas.
Outro ponto que o Will Schwalbe aborda e que me emociona é a
capacidade que os livros tem em despertar empatia pelo o outro, por
nos fazer viver um pouco na pele daquele personagem, tendo
experiências que de outra forma nunca teríamos, e ao mesmo tempo
nos faz perceber que aquele personagem é tão humano quanto nós
mesmos. A literatura nos humaniza. E foi legal perceber que o Will e
sua mãe buscavam livros fora do eixo EUA-Inglaterra, buscavam outros
relatos, outras culturas, outras vivências. O que me fez pensar
sobre o número pequeno de autores nacionais que eu leio, e a
predominância entre os livros internacionais de autores
estadunidenses e ingleses. Quanta coisa eu devo estar perdendo! E foi
curioso ir avançando na leitura e ir descobrindo livros e autores
que eu nunca ouvi falar, e só uns pouco conhecidos, pois me passou a
sensação de que não estava naquele clube do livro, que ainda
precisava repensar minhas escolhas (tanto literárias, quanto de vida)
para me sentir parte de fato daquele clube do livro. Mas fiquei
felizona por eles terem lido “Os homens que não amavam as
mulheres” do Stieg Larsson, e que também ficaram fãs da Salander.
“Todos temos muito mais para ler do que podemos ler, e muito
mais para fazer do que podemos fazer. Mesmo assim, uma das coisas que
aprendi com minha mãe é isto: Ler não é o oposto de fazer; é o
oposto de morrer.”
Ler esse livro foi uma experiência maravilhosa, mas com uns
contratempos durante a leitura pela quantidade de erros de digitação.
A revisão desse livro mandou mal, deixou passar muita coisa, o que
me incomodou bastante (puxa, a revisão foi feita por três
pessoas!!! Como conseguiram deixar passar tanto erro???). Mas, apesar
desses problemas, recomendo a leitura.
E claro, fiquei doida de vontade de participar de um clube do livro!
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