Já faz
algum tempo que eu queria ler alguma coisa da Chimamanda. Há um pouco mais de
um ano, eu assisti o vídeo com a sua palestra no TED sobre os perigos da
história única (se você não assistiu, clique aqui), e eu fiquei extasiada com a fala dela. Fiquei sabendo da publicação de
Americanah na mesma época em que comecei a planejar meu projeto literário “O
Mundo em Palavras”, onde vou escolher alguns livros de cada continente,
tentando diversificar a origem das minhas leituras. A primeira parte do meu
projeto é “Lendo a África”, que acaba de ser inaugurado com a leitura de
Americanah.
Americanah |
Chimamanda Ngozi Adichie é nigeriana
e cursou o ensino superior nos EUA, como a personagem principal do seu livro,
Ifemelu. Decidida a retornar para Nigéria após mais de 10 anos nos EUA, Ifemelu
procura um salão para trançar os cabelos, processo demorado que permite
diversos momentos de digressão, onde relembra diversos momentos da sua vida,
tanto na Nigéria, quanto nos EUA.
Sobre sua infância ela relembra das
transformações da religiosidade de sua mãe, o momento em que seu pai ficou
desempregado, sua relação fraterna com a tia Uju. Também relembra de Obinze,
seu grande amor, quando se conheceram ainda adolescentes, todos os planos que
faziam juntos, suas conversas sobre literatura enquanto Obinze cozinhava com a
mãe, mulher que se tornou referência para Ifemelu.
Obinze e Ifemelu entram para a mesma
universidade na Nigéria, mas a série de greves e problemas administrativos
atrapalhavam a continuidade dos estudos, e Ifemelu tenta uma possibilidade de
bolsa de estudos nos EUA. Ela consegue e com ajuda da tia Uju que já estava
morando lá, Ifem deixa os pais, o país e Obinze, e recomeça seus estudos nos
EUA e consequentemente uma nova vida.
No início de sua temporada
estadunidense ela passa diversas dificuldades, não consegue emprego, tem
problemas de convivência com as outras meninas que ela divide o apartamento,
passa por uma depressão, e no meio desse turbilhão ela se distancia de Obinze,
não atendendo mais seus telefonemas, nem respondendo suas cartas.
Durante
os anos que passou nos EUA, Ifemelu se confrontou com uma realidade estranha,
que a fez se perceber como negra, que a provocou a pensar sobre questões
raciais e culturais. Para externar suas impressões, Ifem criou um blog, onde
colocava suas reflexões sobre a sociedade estadunidense a partir do seu ponto
de vista, de um negra não-americana. Os
textos de Ifemelu são um soco no estômago necessário para nos fazer acordar
para o disparate de determinados comportamentos racistas que estão enraizados
na sociedade americana (e muitas vezes na sociedade brasileira também).
Americanah também nos apresenta a Nigéria e as mudanças desse país, o retorno
dos nigerianos que estudaram em outros países, a entrada de capital
estrangeiro, as transformações culturais.
“Querido Negro Não Americano, quando você escolhe vir para os Estados Unidos, vira negro. Pare de argumentar. Pare de dizer que é jamaicano ou ganense. A América não liga,”
“Eu tinha lido que o Brasil é a meca das raças, mas quando eu fui ao Rio, ninguém que estava nos restaurantes e hotéis caros se parecia comigo. As pessoas reagem de forma estranha quando eu vou para a fila da primeira classe no aeroporto. É uma reação de simpatia, como quem diz você está cometendo um erro, não pode ter essa aparência e viajar de primeira classe.”
Americanah
é um livro necessário. Além de ser escrito belamente, ele coloca o dedo na
ferida e mostra que o sonho americano pode ter suas facetas de pesadelo.
Esse post faz parte do projeto "O Mundo em Palavras", para saber mais, clique aqui.
Parece emocionante e totalmente comovente. Eu não tive a oportunidade de ler, na verdade, nunca tinha visto e fiquei muito interessada, claro.
ResponderExcluirM&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista. São 6 livros para escolher, kit de marcadores e 3 ganhadores.
Fiquei muito curiosa pra ler. Me lembrou Pequena Abelha do Chris Cleave. Amo literatura sobre povos. Vou te seguir ta? Espero tua visita.
ResponderExcluirBeijos
dancadasbolhas.blogspot.com.br/
Uau! Eu também vi a palestra da Chimamanda sobre a história única e foi assim que conheci ela e pelo visto, além de falar bem ela escreve bem e não decepciona na forma como enxerga a sociedade. Como não concorda com o ponto dela sobre o Brasil e sua forma de lidar com a diversidade étnica da população? Até me arrepiei como porque sim, esse tipo de discussão mexe comigo.
ResponderExcluirComo sempre uma ótima resenha Fran, que saudades daqui!